CULTURA E IDENTIDADE:
REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA QUESTÃO SOCIAL NA POLÍTICA MUNDIAL

Melissa Carvalho Gomes (PUC-Rio) *


        Os temas que correspondem aos estudos culturais atuais são parte de uma ampla gama de significantes que, por sua vez, admitem apropriações diferenciadas de seus conteúdos no contexto global do qual fazem parte. É nesse sentido, que a cultura aparece como um elemento forte, que está modificando hegemonias e traduzindo formas diferenciadas de sobrevivência, em resposta às desigualdades e as novas questões sociais.

        A temática cultural renasce em correspondência com a perda de soberania dos Estados-Nação e em concomitância ao resurgimento de identidades culturais locais múltiplas, que conferem outro papel aos Estados Nacionais, no interior dos quais as diferentes formas de soerguimento de suas políticas internas, partem hoje, das expressões e organizações de sociedades multiculturais.


                        

As mudanças culturais e políticas na Grã-Bretanha sob a rubrica abrangente do ‘multicultural’, procura propor uma política identitária em uma época de globalização contraditória, que evite os extremos do individualismo liberal e do relativismo cultural. (Hall, 2003, p. 19)


        Podemos observar, que a definição de Estado multicultural se distingue do conceito de um Estado-Nação moderno, que se afirma sobre o pressuposto de uma cultura homogênea, organizada em torno de valores universais, seculares, como afirma Hall:


                        

Multicultural é um termo qualitativo. Descreve as características sociais e os problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo tempo em que retêm algo de sua identidade ‘original’. (Hall, 2003, p. 52)


        Se partirmos do pressuposto de que a tendência cultural global é a homogeneização, podemos cair em contradição, pois, a globalização tem causado efeitos diferenciadores no interior das sociedades, onde o “sistema de conformação das diferenças” 1 surge como uma tendência emergente no âmbito das políticas.


        Desta forma, a globalização desenvolveu novos espaços para os atores políticos, que se articulam entre criatividade e negociação, para a conquista de um lugar na sociedade através de suas identidades.


                        

No que diz respeito a atores sociais, entendo por identidade o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado. (Castells, 1999, p. 22)


        Nesse sentido, a diversidade cultural aparece no cenário mundial como um elemento que merece atenção e destaque pois, sendo este elemento um mecanismo de resgate dos indivíduos e de seus valores em direção as suas identidades locais, a cultura e a identidade, ao organizar significados, tornam-se elementos constitutivos em bases sedimentadoras de conteúdos simbólicos, que vão estabelecer redes de coesão social como vias de políticas de desenvolvimento local.


                        

Esse ‘localismo’ não é um mero resíduo do passado. É algo novo – a sombra que acompanha a globalização: o que é deixado de lado pelo fluxo panorâmico da globalização, mas retorna para perturbar e transtornar seus estabelecimentos culturais. É o exterior constitutivo da globalização. (Hall, 2003, p. 61)


        Assim, a cultura, como uma ampla gama de práticas concretas, composta de indivíduos que ainda resistem profundamente e são comprometidos com as práticas e valores tradicionais se inserem neste contexto, com o propósito de darem aos homens sentido ao mundo, sem que eles estejam rigorosamente atados a ela em cada detalhe de sua existência.

        Todos nós nos enunciamos a partir de ‘algum lugar’: somos localizados – e neste sentido até os mais ‘modernos’ carregam traços de uma ‘etnia’. (Hall, 2003, p. 83)

        A partir dos fundamentos das identidades como bases organizadoras de sentidos aos homens, Castells propõe três formas de origem e construção destas em seus mecanismos de organização e ação comunal;

                        

Identidade Legitimadora: Introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais.

Identidade de resistência: Criada por atores que se encontram em posições, condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com bases em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade.

Identidade de projeto: Quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de material cultural ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social. (Castells, 1999, p. 24)


        É importante deixar claro, que nenhuma identidade constitui por si só, uma essência, mas sim, gera elementos potencializadores aos indivíduos que a incorporam, quando ampliada em suas bases de resistências às identidades de projetos, que poderão transformar e desenvolver suas vidas. Essencialmente, os atores compõem no interior de seus espaços internos e externos, valores e traços de uma unidade, de vínculos de pertencimento. O pertencimento cultural é algo que, em sua própria especificidade, todos partilham. É uma particularidade universal ou uma universalidade concreta. (Hall, 2003, p. 84)

        São esses traços que nos levam a refletir acerca do papel dessas identidades nas relações de poder, ou seja, junto a esta tendência que desloca os indivíduos ao interior de suas localidades e ao reposicionamento de suas identidades locais, como forma de lidarem com suas forças e conflitos internos, estabelecendo projetos de superação dos efeitos das desigualdades econômicas e sociais. Sujeitos, se e quando construídos, não mais formados com base em sociedades civis que estão em processo de desintegração, mas sim como um prolongamento da resistência comunal. (Castells, 1999, p. 28)

        Esse processo está contribuindo, e muito, para a remodelagem de um novo tratamento político a partir do acesso as diferenças, fazendo com que novas possibilidades se abram no cerne dos estudos culturais, como elemento significativo do mundo global.

        As pessoas resistem ao processo de individualização e atomização, tendendo a agrupar-se em organizações comunitárias que, ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em última análise, em muitos casos, uma identidade cultural comunal. (Castells, 1999, p. 79)

        Nesse sentido, a cultura precisa ser parte de um direito coletivo onde os indivíduos portadores destes bens, possam concorrer num mundo onde grupos locais lutam por maior autonomia. A cultura passa a ser um elemento móvel dentro da política econômica global, sendo o resgate das identidades e dos seus legados, mecanismos sedimentadores de coesão local, que poderão desenvolver formas específicas e diferenciadas para a sobrevivência.

        A tendência à organização de redes comunitárias, muitas vezes é estimulada pela história e por uma memória comum aos indivíduos, através do resgate da identidade, da invenção das tradições 2 , como um meio de convivência sem que haja o fechamento desses grupos, das políticas e do mercado global. Assim, é importante re-significar os termos que possuem conotação negativa, já que eles retem em si mesmos os traços da luta pela mudança.

        A tradição, que busca compor, a partir de sua estrutura narrativa, uma relação entre o passado, a comunidade e a identidade, passa a definir dentro de suas particularidades, um horizonte mais universal.

        Mudanças em uma problemática transformam significativamente a natureza das questões propostas, as formas como são propostas e a maneira como podem ser adequadamente respondidas. (Hall, 2003, p. 130)

        O tradicionalismo tem sido freqüentemente mal interpretado como produto de um impulso meramente conservador, retrógrado e anacrônico, o que é justamente o contrário, quando identificamos o seu ponto de vista transformador.


                        

Quando o mundo se torna grande demais para ser controlado, os atores sociais passam a ter como objetivo fazê-lo retornar ao tamanho compatível com que o podem conceber. Quando as redes dissolvem o tempo e o espaço, as pessoas se agarram a espaços físicos, recorrendo à sua memória histórica. (Castells, 1999, p. 85)


        Dessa forma, as identidades reconstroem-se sob novos códigos culturais, a partir da matéria-prima fornecida pela história. A tradição ocupa um lugar de reorganização de práticas, para que estas ganhem um novo significado— as identidades culturais—, para que estas sejam capazes de se manter e de negociar dentro da cultural global de mercado. A tradição é um elemento vital da cultura, mas ela tem pouco a ver com a mera persistência das velhas formas. Está muito mais relacionada às formas de associação e articulação dos elementos. (Hall, 2003, p. 259)

        É nesse sentido, que o local e o global andam juntos, sendo hoje, um a existência do outro. O pós-moderno global procura apresentar uma abertura para as diferenças, buscando estratégias culturais capazes de fazer a ‘diferença’, dessa forma, a cultura não pode ser simplificada em qualidades binárias, ou seja, alto ou baixo, autêntico ou inautêntico, a questão mais importante aponta para o reordenamento do significado das identidades em relação ao Outro, do seu imaginário social e de suas práticas locais, para que a cultura possa ser um elemento de desenvolvimento local e de poder na política global.


                        

É possível que, dessas comunas, novos sujeitos – isto é, agentes coletivos de transformação social – possam surgir, construindo novos significados em torno da identidade de projeto. Na verdade diria que, dada a crise estrutural da sociedade civil e do Estado-Nação, pode ser esta a principal fonte de mudança social no contexto da sociedade em rede. (Castells, 1999, p. 86)


        O resgate das identidades culturais e dos localismos surge na sociedade hoje como parte de resistências comunais, que se desenvolvem internamente, na busca de conciliar os reflexos desiguais da globalização.

        A cultura resurge como um mecanismo de sobrevivência comunal, pois é, através do desenvolvimento das localidades, na afirmação de seus valores e diferenças, que comunidades poderão construir, a partir de seus legados, uma “identidade de projeto”, para assim, poderem sobreviver enquanto indivíduo, parte de um grupo comum na política econômica global.

        A cultura subtende diversas representações e, a partir delas, elementos múltiplos de desenvolvimento, articulação e diferenciação, que são as marcas de cada indivíduo e seu grupo. As diferenciações estão no modo com que esses elementos imateriais são apropriados e resignificados na conjuntura local e na dinâmica global.3

        Ao utilizarmos um exemplo concreto, podemos visualizar e traçar caminhos que poderão ser apropriados pelas mais diversas representações, através de suas particularidades e assim, resignificar o papel da cultura como uma prática capaz de redefinir a posição dos indivíduos na sociedade. Partimos então para a Cidade de Goiás, comumente conhecida como “Goiás Velho”, localizada no Estado de Goiás, aos pés da Serra Dourada, com cerca de 30.000 habitantes e que foi fundada em função das expedições bandeirantes.

        Berço da cultura goiana, a cidade de Goiás nasceu em 25 de julho de 1727, por obra de Bartolomeu Bueno da Silva Filho, em homenagem ao seu pai: o bandeirante “Anhanguera”. Filha do passado, a cidade hoje revive sua História de tal forma, que passado e presente se misturam de maneira peculiar nos seus espaços e nas vidas dos seus habitantes.

        A Cidade de Goiás caminhou entre períodos de opulência e decadência material. Como capital do Estado edificou a afirmação de sua identidade calcada no patrimônio material, intelectual e moral sempre ligada a um passado “glorioso”. Porém, a transferência da capital do Estado para Goiana, em 1937, desestabilizou as bases sociais e econômicas desta cidade. Esta data, expressiva na história da cidade, foi marcada por perdas, tanto materiais, quanto morais e foi através da resignificação de seus valores que os Vilaboenses souberam escrever uma outra página na sua história. Através de seu legado cultural e de suas infinitas representações, a Cidade de Goiás conquistou o título de Patrimônio Mundial da Humanidade concedido pela UNESCO, restabelecendo as suas bases estremecidas.

        As representatividades e os signos que constroem a identidade singular desta cidade, se configuram para além de sua história oficial bandeirante, ela é constituída cotidianamente entre seus personagens anônimos e foi resignificada junto a obra e vida da poetisa Cora Coralina. Esse enlace entre representações fez com que os habitantes da cidade se olhassem através de suas próprias luzes e as suas características literárias e patrimoniais foram as bases de reorganização desta sociedade a partir de seu legado.

        Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, nasceu naquela cidade em 20 de agosto de 1889. Cora Coralina, como mais tarde preferiu se autodenominar, era chamada pelos familiares e amigos de Aninha. Embora tivesse instrução apenas primária, ela se consagrou como escritora e se manteve doceira de profissão.

        É fato que Goiás se construiu para além da história oficial, com uma percepção própria de sua estória local. Goiás sobrevive através da afirmação de sua identidade peculiar, de sua memória e de sua história atemporal e mítica, elementos fundamentais e fundacionais que encontram continuidade no presente.

        É através de seus signos que podemos identificar as marcas que compõem o cenário desta cidade e os significados de sua identidade que abraçam os personagens diários através do imaginário e feitura local.


Vive dentro de mim
Uma cabloca velha
De mau-olhado,
Acocorada ao pé do borralho,
Olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim
A lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
D’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
Pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
A mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
Toda pretinha.

Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
A mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
Desabusada, sem preconceitos,
De casca-grossa,
De chinelinha,
E filharada.

Vive dentro de mim
A mulher roceira.
- Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
A mulher da vida.
Minha irmãzinha...
Tão desprezada,
Tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
A vida mera das obscuras.
(Coralina, 1965, p. 33)


        A obra de Cora tornou-se um dos elementos essenciais para o processo de resgate da identidade cultural da cidade e, mais tarde, para a conquista do título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Através da sua literatura, na revalorização e no resgate da memória e cultura locais, o trabalho de Cora resignificou o sentido de pertencimento na cidade. A projeção nacional da obra de Cora Coralina valorizou a cidade, que passou a ser reconhecida como produtora de arte e cultura. Na imagem de Cora, representante material da cidade de Goiás, confluem significados que pertencem à sua obra, à mulher Ana e à cidade de Goiás. Mesmo depois da sua morte, Cora Coralina está presente na sua cidade. A cada passo, em cada lugar, ao falar com as pessoas, ao apreciar as obras de outros artistas, lá está ela, pois Cora vive através de todos.

        Foi através da literatura, patrimônio cultural imaterial desta cidade, que seus habitantes escreveram mais uma página na sua história, na composição de suas raízes e em seu processo de r-organização para o desenvolvimento local a partir de seu legado. A cidade de Goiás é hoje um território fecundo para a leitura, a literatura, a memória e a história e sobrevive a partir de intensos movimentos dos seus habitantes em defesa dos seus patrimônios —material e imaterial.

        Através de um exemplo bastante peculiar, podemos ter idéia das múltiplas potencialidades que o papel da cultura e da identidade podem ter como veiculo de transformação social e sedimentação de valores positivos e reflexivos de uma nova política mundial.

        A importância simbólica da vida e obra da escritora Cora Coralina para a cidade de Goiás e a sua contribuição material para o desenvolvimento econômico e social local, nos ampliam a possibilidade de refletir sobre o valor e a efetividade das novas respostas que as sociedades civis organizadas vêm encontrando para enfrentar as desigualdades decorrentes do contexto recente de globalização econômica e cultural.

        No que se refere à reestruturação dos Estados Nacionais em suas políticas externas, internas e as suas relações sociais, políticas, territoriais, econômicas e culturais em cada nação, temos presenciado significativas mudanças recentes, nos despertando especial interesse aos esforços das comunidades para se voltarem para si mesmas, debruçando-se sobre seus próprios conteúdos, em busca das suas identidades e particularidades.

        Estamos diante de um novo fazer político e social, de uma nova reflexão política e de um potencial que precisa ser explorado e podemos dizer que a cidade de Goiás se configura em um bom exemplo, dentre muitos, de que o capital cultural pode ser a chave ao redirecionamento de um novo fazer, de novas políticas e de desenvolvimento local.



Referências Bibliográficas:


CASTELLS, Manuel, A era da informação: economia, sociedade e cultura. 3 vols. O poder da identidade. Vol. II. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Global, 2001. 1a. Edição 1965.

FONSECA, Denise Pini Rosalem da, “Identidade Cultural e Desenvolvimento: uma Experiência Comunitária de Sucesso”, em FONSECA, Denise P. R. da & SIQUEIRA, Josafá Carlos de (Orgs.), Meio Ambiente, Cultura e Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Sette Letras, Historia y Vida, 2002. p. 169-184 .

GOMES, Melissa Carvalho. No Rastro de Cora: Identidade e cultura com açúcar e literatura. 2004. 130f. Dissertação de Mestrado. Departamento de Serviço Social, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2004

HALL, Stuart. Da Diáspora Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

HOBSBAWM, Eric. A Invenção das Tradições. Ed. Paz e Terra. São Paulo, 2002.



* Melissa Carvalho Gomes é Assistente Social (UFRJ) com Mestrado em Serviço Social (PUC-Rio). Desenvolve trabalhos de consultoria em responsabilidade social, através de projetos de desenvolvimento local baseados em legados culturais e é membro dos projetos de pesquisa desenvolvidos pelo Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente, NIMA/PUC-Rio. Escreveu “No Rastro de Cora: Identidade e Cultura com Açúcar e Literatura”. Dissertação de Mestrado, Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, 2004.
1 Segundo Stuart Hall, as diferenças coexistem no tempo e no espaço com as diversas investidas homogeinizadoras e a conformação delas significa a constatação realista de que é preciso continuar decifrando os reajustes culturais através da história. Hoje, essas relações são deslocadas ou reencarnadas como lutas entre forças descolonizadas, entre contradições internas e o sistema global como um todo.
2 A expressão “Invenção das Tradições” foi forjada por Eric Hobsbawn para dar significado a um conjunto de práticas de natureza ritual ou simbólica, normalmente reguladas e aceitas por diferentes grupos, que procuram através da repetição estabelecer valores, em uma relação continua com o passado. Muitas tradições são reformuladas ou mesmo inventadas e institucionalizadas, estabelecendo valores e ‘tradições’ a um passado muito recente, mas que possui um papel muito significativo no restabelecimento de signos de pertencimento local.
3 Para uma discussão sobre as relações entre identidade, cultura e desenvolvimento local, a partir da idéia de resignificação dos elementos do legado cultural imaterial ver: Denise Fonseca, “Identidade Cultural e Desenvolvimento: uma Experiência Comunitária de Sucesso”. (Fonseca & Siqueira, 2002, p. 169-184).